quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O Famigerado TACO (e o “bom filho a casa retorna”)

Tudo aconteceu na última terça-feira de carnaval. Em casa, chamei os amigos para jogar uma aventura do Lalo de ravenloft 3.x, já que estávamos secos para jogar algo nesse dias estendidos de feriado. No final, de uma mesa que deveria ter mais ou menos sete jogadores, restaram três: eu, minha mulher e um amigo comum. Para não atrapalhar a campanha, da qual não participo, o mestre decidiu por uma one-shot, e quando ele anunciou “tomem as fichas e montem seus personagens de sexto nível”, o problema estava armado.
Os livros começaram a ser folheados, contas feitas, itens mágicos consultados e o tempo foi passando. Eu virei e falei “olha, ou a gente monta os personagens ou a gente joga, não dá para fazer os dois hoje!”, e em vista desse dilema, peguei meus humildes livros da segunda edição e acrescentei “aqui dá para fazer os dois”. Quinze minutos depois, personagens devidamente montados e equipados, começamos o excelente conto de mistério e morte nos domínios de Diamabel, o celestial. Uma tarde gostosa e despretenciosa. Contudo, o dia sim esbarrou num obstáculo, o tal TACO, que provocou uma certa confusão, resolvida depois de alguns minutos de explicações. Ficou decidido que o mestre falaria as ACs dos adversários e o cálculo eu faria na hora (não um mistério muito grande). E depois disso, a aventura transcorreu sem maiores problemas.
Qual é a dificuldade com o TACO afinal, fiquei imaginando. É só diminuir a AC da criatura do valor de TACO e você descobre quanto precisa tirar no d20 para acertá-la. Existe muita gente que argumenta que a mente humana trabalha melhor com adições, e mesmo que “pareça” ter lógica tal argumento, não vejo esse problema absurdo em subtrair invés. Galera, aprendemos essas operações nos primórdios do primário. Não que o conceito, depois da explicação, tenha provocado mais problemas. Todo mundo se adaptou bem ao final da aventura. Então acho que o argumento sobre somas caiu por terra. Era só uma questão de hábito e adaptação. Até mesmo o mestre já tinha uma experiência longa com o AD&D segunda, e creio que ele se acomodou nas regras mastigadas do terceira, talvez. O ponto é que o TACO só assustou na hora, depois foi “mamão-com-açúcar”, característica do AD&D em geral.
Contudo, reconheço que eu, como mestre, gosto de manter o AC das criaturas um segredo que só é desvendado ao longo do combate, caso os jogadores se importem em contar. Mantém o clima de mistério e desafio, acho. Então, como eu faria se estivesse na cadeira do mestre dessa vez e não na de jogador? Olhando na “fórmula” consagrada para o cálculo do número de acerto, cheguei a uma conclusão curiosa. Vejamos:
TACO – Categoria de Armadura(AC) = Chance de acerto
Isso daria valores como TACO 20 para acertar AC 2: precisa de um 18 ou mais. Conclui-se que a chance de acerto é o resultado do dado que esperamos tirar.
Assim, se trocarmos de posição alguns elementos, chegamos ao seguinte cenário:
TACO – resultado no dado = AC acertada
Seria algo como TACO igual a 18 e tiro um 19 no dado. Acerto AC –1.
Pronto, consegui manter meu estilo e não dizer a AC da criatura de cara e ainda manter uma fórmula simples para ataques sem recorrer a uma matriz (que por sinal torna todo esse exercício redundante, mas dá mais trabalho para fazer). Isso faz o jogador dizer qual AC ele conseguiu e o mestre revelar se foi suficiente para um acerto ou não. No exemplo acima, quase uma certeza (caso não tenha sido suficiente, pode ter certeza que os jogadores começarão a se remexer desconfortáveis nas cadeiras!).
TACO para mim não representa desafio nenhum. Entendendo-se os conceitos, qualquer pessoa é capaz de continuar jogando com esses cálculos em segundo plano. Aliás, como praticamente todo sistema do AD&D faz, ficar em segundo plano enquanto que a história, o roleplay e o drama assumem a dianteira.
Aventura concluída, o mestre vira-se para nós, com os olhos brilhando pela nostalgia, e revela que tinha esquecido o quanto era fácil e divertido jogar desse jeito. Como tantos outros, ele estava chateado pelo exercício matemático a que era submetido toda vez que queria mestrar uma aventura de D&D 3.x. Mas parece que consegui um novo converso, que não vai voltar a olhar para trás (ou para frente, não faço idéia). O old school é justamente o que supre a necessidade dele, tão atarefado com trabalho, estudo e responsabilidades como todos nós.
Relembrando agora, esse TACO não era um obstáculo muito grande afinal.

5 comentários:

  1. Gostei da sua explicação sobre o TACO e que eu lembre vc teve dois conversos, me converteu tb, lembra? ^_^ Amei o post! Espero ver muitos outros! Te amo!

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  2. muito bom! nunca entendi a dificuldade com o thaco. ate escrevi sobre isso a um tempo atras:
    http://www.vorpal.com.br/?p=1348

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  3. Opa, não conhecia esse artigo seu. É até mais amplo. Esse artigo, junto com o de saving throw, representa minhas postagens sobre as jhouse rules que irei usar em minha campanha. Inclusive tenho algumas para tornar a maioria dos teste "maior, melhor", mais para agradar o jogador moderno do que por achar o sistema falho. Ao longo da semana estarei atualizando o blog sobre isso.
    Abraços

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  4. É o que eu digo, AD&D lhe ensinava soma algébricas, D&D apenas somas aritiméticas.

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  5. Esse negócio de "ai, TAC0 é difícil" é o maior exagero. Desde criança eu jogo com essa regra e sempre entendi. O que eu não entendo é como as pessoas acham difícil essa regra...
    Pena que você parou seu blog em 2013, amigo.
    Se ainda anda por aqui, dê uma visitada no meu humilde blog, 90% dedicado a Ravenloft e 10% a Cthulhu Dark Ages:
    https://bardodanevoa.blogspot.com/

    Vou adicionar o seu blog no meu blogroll, para futuras consultas. Seus textos são bons.
    Abraço!

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