terça-feira, 31 de julho de 2012

Thulsa Doom e o enigma do aço: o dilema da Multiclasse

_9583Para quem não sabe, Thulsa Doom é um vilão criado por Robert E. Howard que ficou imortalizado na interpretação de James Earl Jones no filme Conan The Barbarian de 1982. Originalmente um vilão de Kull, sua aparição na película ajudou a “subir as apostas” que o grupo de heróis, liderado por Arnold “Talk to the Hand” Schwarzenegger, enfrentou para torná-lo um clássico cult. O importante para este post é que o feiticeiro Thulsa tem um dos conjuntos de armadura mais estupendos já criados, e junto a ela porta duas espadas bastardas igualmente intimidadoras. Será Doom em termos D&D o multiclasse essencial entre guerreiro e mago?

Apesar de no filme nunca termos realmente uma resposta definitiva sobre as habilidades de combate de Thulsa Doom (a de se perdoar o diretor por trabalhar com orçamento mínimo), simplesmente a impressão que esse seria o caso já basta para torná-lo um bom modelo para a ideia de multiclasse.

Tradicionalmente, D&D sempre teve dificuldade para apresentar uma resposta para um personagem híbrido viável. Por um lado corria o risco de criar uma opção de personagem auto-suficiente, capaz de sobreviver a qualquer desafio do mundo de campanha sem muita ajuda externa, naturalmente implodindo todo o conceito de cooperação vinculado ao sistema de classe do D&D (assunto este abordado em outro post). Por outro lado, corria-se o risco de em ambas as opções o personagem ser um completo incompetente, impedindo que contribuísse para o grupo de forma mensurável. Apesar de em alguns momentos, nos vários sistemas que encarnaram sua geração de D&D a multiclasse parecesse funcionar, em última instância o perigo de um dos extremos sempre estava presente.

conan-villians

Na verdade, um personagem com várias habilidades é perfeito justamente para o papel de Thulsa Doom no filme: o de vilão! Sou partidário da opinião que os npcs e criaturas não necessariamente precisam seguir as mesmas regras que os personagens dos jogadores, e procurando manter pelo menos um nível de critério, o DM empreendedor conseguiria criar cenas memoráveis dentro de sua campanha seguindo esse mantra. O grupo de heróis (ou anti-heróis) precisa se unir e trabalhar em conjunto para derrotar tal formidável inimigo, se tiverem alguma chance. Descobrir o motivo da conjunção singular das habilidades do vilão pode ser inclusive uma motivação para o grupo e um segredo guardado do cenário, e encarar a mesma fonte de poder e corrupção que faz o antagonista decair originalmente pode carregar grande emoção e suspense.

Na variante que estou desenvolvendo, não estou dando muita atenção ao dilema da multiclasse a princípio. Talvez não venha a promovê-lo de alguma forma específica para jogadores. O sistema de classe dupla do AD&D parece, em retrospectiva, mais interessante para isso, entretanto também possuiu problemas de implementação consideráveis. Por hora me interessa mais criar definições e diferenças bem claras sobre as classes básicas para estimular o espírito cooperativo.

Para terminar, mais um pouco de Thulsa Doom para os apreciadores da violência crua da espada e magia, quando Arnie “Conan” está se preparando para o pior com o avanço da cavalaria comandada pelo sacerdote negro!

PS: reconheço que Thulsa Doom do filme tem pouco em comum com o das histórias de Kull da Atlântida. Em verdade, o culta da cobra e parte da composição do personagem devem-se a Thoth-Amon, o arqui-inimigo de Conan na literatura que teve uma representação abominável no segundo filme do bárbaro (aliás, como quase tudo desse filme).

PS 2: sim, o filme do Conan de 1982 tem graves desvios com relação as histórias originais do Conan. Sou do grupo que acredita que apesar de tudo, a essência estava lá permeando o filme, e conseguiu sobreviver as outras influências seguidas por John Millius na criação da película.

PS 3: sim, eu sei que o Conan de Howard nunca fez preces à Crom. A cena é tão legal que eu não me importo!

(Imagens usadas a título ilustrativo. Nenhuma intenção de ferir os direitos intelectuais dos autores. Todos os direitos reservados à 20th Century Fox.)

3 comentários:

  1. Paulo, esse filme é fora de ´serie. Ele nao tem qs nada a ver com o Conan, mas isso nao desqualifica o filme :D

    cara, acho q vc pode optar por dizer q a armadura é magica e ponto final. ela foi criada para ser usada por um feiticeiro (o que por si só já deve ser um item MUITO cobiçado!). claro, ela pode ter efeitos negativos, como "loucura" ou algo assim, ou vincula-lo ao deus serpente...

    enfim, NPCs nao precisam seguir as regras. Gygax mesmo mudava as coisa ao bel prazer, desde q enrriquecesse a campanha :D


    Claro, vc pode fazer dele um dual class, ou multiclasse, caso queira dar mais "poder de porrada" pra ele. poderia fazer clerigo mesmo (o termo em si nao tem importancia. o "feiticeiro" no caso se refere a alguem com magia )

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    1. Como você citou e cheguei a comentar, reconheço desvios sérios com relação as histórias literárias originais. Me considero um leitor interessado de Howard (possuo e já li emprestado vários livretos e antologias de seus personagens), mas esse filme, com todos os seus defeitos, é algo especial! Fora de série realmente...
      A armadura de Thulsa poderia ser pensada dessa forma, mas e as duas espadas na bainha? Ele não as usa, mas pensar que são apenas de enfeite é um grande desperdício de alegria nerd rs
      Thulsa é apenas minha desculpa para pensar multiclasse. O clérigo ao meu ver já é um tipo de multiclasse, pelo menos nas primeiras edições do D&D. Como você bem citou, feiticeiro é apenas uma referência no cenário que não precisa se traduzir em característica mecânica. Minha intenção é talvez enfatizar que a junção das habilidades de combate e magia ser valiosa demais para permitir que desequilibre a cooperação que procuro promover no meu projeto.
      Como muitos sabem, a título histórico, uma das perguntas da Wizards na contratação de designers era "qual classe mas poderosa do D&D e porquê". Pelo menos uma resposta, a de Mike Mearls, é bem conhecida: clérigo, é claro...
      Sempre grato pela sua contribuição Beltrame!

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  2. Do meu ponto de vista, Thulsa Doom é um Clerigo. Ele é apresentado como o sumo sacerdote de Set, o deus serpente da era hiboriana, o que o tornaria uma especie de clerigo/cultista de uma divindade maligna. Lemvre-se da religiao em volta de tudo, a seita, seguidores, sacrificios, adoraçao a serpentes... Existe toda uma religiao organizada e cerimonias de adoraçao ao redor do culto. Entao ao meu ver, trataria Thulsa Doom como um Clerigo, talvez como uma subclasse/especializaçao estilo cultista em Old Dragon, ou com um Patrono em DCC.

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